O JEITO DE MORAR DE CADA GERAÇÃO

Por Maiara Faria e Luciana Gimenes
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A classificação da sociedade em gerações não se dá unicamente à idade, mas à hábitos de consumo, de vivências, e estão relacionados diretamente com situações políticas, econômicas, culturais e tecnológicas de cada país. (Por isso existem estudiosos que discutem um atraso de alguns anos das gerações aqui no Brasil em comparação com os EUA, por exemplo).

A denominação das gerações também possibilitou a facilidade em reconhecermos cada época, um jovem dos anos 60 tinha inspirações e atitudes diferentes de um jovem dos anos 90, e diferente de um jovem de hoje...

A profissão do arquiteto permeia por todas essas gerações. Mas não é uma regra. Diversas profissões foram se extinguindo ou surgindo ao longo das décadas para suprir necessidades diferentes, que mudam conforme a sociedade vai evoluindo.

Atualizações e mudanças nem sempre são necessárias para todos os setores. Alguns têm seus territórios consolidados. Mas, para o design e arquitetura não! Estes estão diretamente relacionados ao modo de viver e, portanto, suas soluções devem ser práticas e voltadas para o comportamento humano como um todo.

Houve uma época em que ser mais velho era sinônimo imediato de ser mais experiente, mais maduro, e, consequentemente mais importante, sábio. Apesar de serem qualidades extremamente nobres e visíveis ainda em grande parte da geração anciã, não é mais uma regra. Existem profissões e setores do mercado que dependem quase que unicamente de gerações mais novas. Saber lidar com essas gerações é a solução para fazer com que a maturidade reine entre as diferenças e que os resultados sejam potencializados, criando uma sociedade igualitária e que pensa em todos, como de fato um todo.

Por exemplo, a clareza e a transparência fazem parte da vida dos millenials, onde o mercado de trabalho não é visto como um ganha pão, mas como um meio para se trabalhar no que gosta. Sendo assim, a geração dos meus pais por exemplo, os baby boomers, já encaravam diferente esta relação de trabalho-chefe-família. Era uma responsabilidade maior, uma visão diferente, menos interativa, mais autoritária.

Enfim, é muito interessante analisarmos a trajetória do design e da arquitetura por todas essas fases, e verificarmos que estas áreas de atuação estão e sempre estarão interligadas ao que a sociedade espera, age e cria, de novo, ao comportamento humano.

BABY BOOMERS - 1945-1964

Uma geração marcada pelas guerras, em especial a Segunda Guerra Mundial. A infância era envolta por brincadeiras fora de casa, na rua. É uma geração que envelhece melhor, aposenta e continua trabalhando, cujos filhos saíram de casa - alguns procurando lugares menores para morar. No âmbito do design de interiores, os móveis são menores e fáceis de deslocar. A decoração possui muita memória afetiva, heranças e fotografias. Início do surgimento do design Industrial e comercial – móveis e objetos pensados para a decoração, não simplesmente funcionalidade. Mais tarde com a criação da TV se inicia o primeiro contato com as novas tecnologias. As tradições estão presentes no comportamento familiar e no consumo – ainda muito equilibrado e voltado para o essencial.

GERACAO X – 1965 - 1984

Geração marcada pelas manifestações e revoluções dos jovens. Surgimento dos hippies, movimento Psicodélico, Homem na Lua, governos opressores (Ditadura Militar), defesa do meio ambiente. Tudo isso é refletido através do design da época. Surgem os primeiros indícios de reciclagem no design. A memória afetiva ainda existe, mas é menos marcante. Um espaço começa a exercer mais de uma função. Uma geração marcada pelo Op Art (arte com ilusões de ópticas) e pela Pop Art – lutando contra o modo capitalista que teve maior destaque nos anos seguinte. Uma geração que começa a gastar mais com a casa e sua aparência.

GERACAO Y OU MILLENIALS – 1985 - 1999

Período de transições políticas, tecnológicas e sociais grandes e marcantes com muitas mudanças e globalização. (Movimento punk / queda do muro de Berlim, fim da ditadura militar). Uma geração que aceita melhor as diferenças e possui maior consciência ecológica. Têm influência do psicodélico no design trazendo e expandindo o uso das cores, formas geométricas e uso do neon em projetos mais alegres e divertidos. Os pets e as plantas começam a entrar na casa. A cozinha se transforma em área social, onde o intuito é receber e entreter. Surgimento mais assíduo do home office: poder trabalhar de qualquer lugar. A preferência por experiências a coisas começa a refletir na decoração.

GERACAO Z – 1999 - 2010

Começam as políticas de inclusão digital, o que possibilita maior acesso à internet, maior facilidade de interagir com qualquer dispositivo eletrônico. Época em que o digital e as redes sociais são parte da rotina e da vida. Onde o design migra para o digital – game design, design automobilístico, design de produto. E onde a preocupação com o meio ambiente está mais presente do que nunca. O design ergonômico, de qualidade, e com estética é mais requisitado. Existência da cultura instagramável e intensa comunicação online. A TV deixa de ser tão importante e os ambientes são criados para as novas necessidades de se conviver entre o real e o virtual.

GERAÇÃO ALPHA – 2010 – ATUAL

Uma geração à parte, onde o aceitamento e a convivência com as diferenças são naturais. Onde há a busca constante por melhorias, criatividade e tendências. Geração minimalista, Flat Design. Projetos para novas mídias – tv, digital, mobile, tablets.

A CASA DO FUTURO

Crianças com 3 anos já navegam na internet em vários dispositivos eletrônicos e não entendem ainda como a TV tradicional não permite essa interação de escolha. Uma geração onde suas casas definitivamente serão automatizadas, envolvendo o uso das tecnologias como algo imprescindível.

O que não podemos esquecer são das relações humanas e de que como trazê-las para dentro de nossas casas sem que haja esse contraste marcante entre real e virtual. A ansiedade corporativa, a depressão, a falta de convivência são problemas relacionados hoje com a existência do mundo virtual. As novas gerações precisam de liberdade e de uma linguagem apropriada para se comunicar. Assim devem ser suas casas. Apropriadas para o seu tempo, mas sem se esquecer do passado, das tradicionais milenares e da história familiar. A casa será um refúgio, mas não será mais vista como o único lar no mundo.